Vivenciar Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, é um compromisso nacional. Creio que as lições relevantes a serem tomadas, para além do gozo estético, é que o terror não é necessariamente claro. Ele se desenvolve com algumas sutilezas, até que o normalizemos, quando ele passa a ser tolerado. Uma vez assim, toma sua forma plena e audaz.
A vida e desaparecimento de Rubens Paiva foi o sumiço das alegrias. Interrompido pela atrocidade peculiar dos terroristas e sanguinários, das ditaduras e do militarismo. Há aspectos que pulsam a realidade. Uma convocação administrativa para averiguação de fatos não justificada, a invasão de um lar e apossamento dos bens privados, sem justificação, vidas e sonhos. A aniquilação das famílias, de maneira a sequestrar suas subjetividades. Valida-se o cinismo como método de averiguação da realidade, a manipulação de haveres e fatos. O castigo físico e psicológico como meio de distração e morbidez. Não pode gostar da Tropicália! Não pode gostar de gente! Não pode guardar coisas em gavetas! Não se pode ser marido, pai e casa! Tudo ronda, naturalmente, o cotidiano atual.