Documentos vinculados ao Ministério Público de Goiás e obtidos exclusivamente pelo portal Vero Notícias mostram que informações encontradas no celular do empresário assassinado Fábio Escobar, que faziam referência ao governador do Goiás, Ronaldo Caiado, foram estranhamente apagadas pela Polícia Civil do estado.
A possível manipulação de provas, já que arquivos teriam sido apagados do celular da vítima, foi constatada pela Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), órgão do MPGO subordinado à Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ), como especifica o Ato da PGJ de nº 38/21.
Os documentos que evidenciam possível adulteração de informações no celular, contudo, foram pedidos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao MPGO, e estão sob sigilo.
O trabalho da CSI, porém, permitiu que alguns arquivos, contatos e informações, que haviam sido excluídos logo após a morte do articulador político, fossem recuperados. (Veja documento)
A extração, realizada com os polêmicos programas Iped (origem brasileira) e Celebration (sistema israelense), tradicionalmente utilizados pela Polícia Civil de Goiás para acessar dados apagados, mostram que arquivos encontrados no celular de Fábio Escobar que continham o nome do governador Ronaldo Caiado foram apagados no mesmo dia da morte do empresário. (Veja documento)
Contato de Caiado
Durante depoimento à Justiça, a esposa do empresário morto relatou que ele “teria tentado” entrar em contato com o governador para relatar possíveis “ameaças” que vinha sofrendo antes de ser assassinado, como mostra um vídeo obtido com exclusividade pelo Vero Notícias e que corrobora com as informações coletadas pela CSI e que estão sob custódia da Gaeco e da PGJ.
Entretanto, no dia da morte de Fábio Escobar, de acordo com o depoimento da esposa da vítima, e como descrito nos documentos do Gaeco, o celular do empresário foi entregue ao agente de polícia Fabiano Félix que acompanhava o delegado titular do Grupo de Investigação de Homicídios de Anápolis, Wllisses Valentim.
Além disso, contatos e conversas com figuras políticas, incluindo os prefeitos Diego Sorgatto (Luziânia) — o qual demonstrava ser próximo nas redes sociais — e Roberto Naves (Anápolis) também foram excluídos do polêmica celular, juntamente com um número registrado no aparelho como “Ronaldo Caiado”.
Ignorados pela investigação
Tais dados não constaram no primeiro relatório da investigação liderada pelo delegado Wllisses Valentim, que no dia seguinte à morte de Escobar, enviou o aparelho para a Gerência de Operação de Inteligência do estado para que fosse desbloqueado e extraído informações do celular, mas recebeu a resposta no dia 28 de junho de que “não foi possível acessar os dados devido ao bloqueio do aparelho”.
Entretanto, no mesmo dia, o delegado teria mencionado em conversa com um agente da corporação policial, que tentava coletar informações com a esposa da vítima, já ter visto antecipadamente as conversas de Escobar, dando a entender que teve supostamente acesso clandestino ao aparelho.
Em seu depoimento à Justiça, o pai de Fábio Escobar, afirma que policiais “acessaram e apagaram provas” que estavam no celular do empresário.
Relatório inconsistente
Outra inconsistência encontrada é que o relatório policial do delegado Wlisses indicava que as conversas entre Escobar e Fernando, suposto autor da emboscada, iniciaram no dia 22 de junho. Contudo, a nova extração mostrou que eles tiveram uma conversa com troca de 50 mensagens no dia 21 de junho, que também foram apagadas.
Procurado quatro vezes por meio da Secretaria de Comunicação de Goiás, o governador Ronaldo Caiado, não se posicionou sobre a reportagem. A Polícia Civil de Goiás também não respondeu aos questionamentos enviados.
Já o Ministério Público de Goiás inicialmente informou que os documentos descritos no e-mail eram “falsos”, mas após o envio da documentação completa, o órgão voltou atrás e confirmou a veracidade da documentação, mas informou que não produziram “relatórios de análise” sobre as evidências de possível manipulação. Ou seja, o MPGO ignorou a possível gravidade nas informações resgatadas e passadas pela CSI, órgão vinculado à PGJ.