Não restam dúvidas de que as sociedades vivem hoje um grande desperdício. A partir dessa premissa, nota-se que os problemas ambientais e ecológicos expõem questões centrais para os estilos de vida contemporâneos.
Faz-se necessário, portanto, buscar uma forma mais harmoniosa de convívio ambiental entre o ser humano e a natureza. Sob essa ótica, é preciso mudar a predominância de visão a longo prazo que se insere nos processos decisórios e equilibrar o uso dos recursos naturais, e interromper esta visão “endeusada” das máquinas e da industrialização, sem esquecer a necessidade de evolução da tecnologia e da ciência.
A sociedade tem lidado com muitas incertezas futuras no campo da saúde, na questões ambiental, no viés econômico e na política, notando-se que estamos diante de uma enorme encruzilhada civilizatória.
No dizer de Boaventura Souza Santos, a humanidade encontra-se neste momento, numa “sala de emergência” socioeconômica e ambiental. Será que se conseguirá mudar o rumo do modo de apropriação dos recursos naturais? Será que esta sociedade irá perceber que vive hoje de maneira (in) sustentável e politicamente (in)correta?
De acordo com Ignacy Sachs, se faz necessário um novo planejamento de como lidar com as incertezas futuras e com a indeterminação social, que é o resultado do modelo errado de desenvolvimento econômico, social, político e de saúde ambiental. Ainda segundo Sachs, as sociedades contemporâneas têm a ilusão de que podem controlar todos os mecanismos sociais, econômicos, político e, especialmente, de recursos naturais, mantendo a visão ainda primitiva de infinitude dos recursos naturais.
O mundo atravessa uma crise ecológica global e a América Latina não estaria fora desta problemática. Destaca-se, nesse contexto, que o modelo da Revolução Industrial trouxe problemas ecológicos, talvez, nunca experimentados pela humanidade nessa escala. Tal modelo vivenciado indica que o ser humano terá que conviver com os resultados das suas práticas, mesmo solucionando alguns problemas outros surgirão, demandando mudanças na vida das gerações presentes e futuras.
A temática ambiental e de desenvolvimento sustentável tem surgimento na década de 1960. Essa temática baseia-se no fato de que se a humanidade continuar a se apropriar com o ideal de infinitude dos recursos naturais, não conduzirá à riqueza tão sonhada, mas sim a catástrofe, sem volta da destruição do planeta.
Esse ideal inicial está impregnado das posições expressas por Thomas Malthus nos primeiros anos do século XIX. Pode-se dizer, assim que a problemática ambiental surgiu, em algum ponto, dentro da discussão sobre o crescimento demográfico e todas as inquietações que são geradas nos sistemas de saúde, habitação, recursos hídricos etc.
Dentro de uma retrospectiva no ano de 1968, é publicado, por Paul Enrilich, o texto “The population bomb”, além disso, não se pode esquecer do artigo do Hardin “The Tragedy of the Commons”, tendo continuidade em 1972, por Meadows , no “ The Limits to Growth”.
O relatório Meadows constitui-se, na verdade, de um grupo de pesquisadores de diversos países que ser reuniram em Roma para avaliar a situação presente e futura do ser humano. O documento gerou um grande desconforto e alarme mundial, pois o relatório trazia uma advertência, de que uma omissão em ignorar a finitude dos recursos naturais contribuiria para o risco ambiental.
Ademais, o relatório deixou evidente que a exploração da natureza impõe limitações ao crescimento econômico, social, político, à industrialização, além de limitações aos recursos hídricos, aos sais minerais e à poluição suportável pelo planeta e por todos os demais seres vivos. No relatório, foram analisados também elementos que ensejam a necessidade de impor limites ao crescimento, como crescimento demográfico; a produção de alimentos; ao ritmo acelerado do crescimento industrial; aos níveis de poluição gerados pela atividade econômica e ao consumo dos recursos naturais e não renováveis, uma verdadeira geografia ambiental do planeta (Gaia).
Os pesquisadores deixaram evidente já naquela época, no dizer de Mota, que mesmo que os sistemas físicos do planeta fossem capazes de absorber um crescimento constante da população, ainda assim, o crescimento econômico teria que ser sustentável para se obter, como resultado, a geração de emprego decente, educação de qualidade para todos e, principalmente estabilidade social.
Um questionamento se faz presente, portanto: mas, afinal o que é sustentabilidade? A sustentabilidade para Solow deve ser estudada pelo viés da justiça entre as gerações, onde o bem-estar deve ser compartilhado entre as pessoas no presente e no futuro, devendo existir um pacto ético de recomposição dos ativos ambientais.
Assim, para Faber, a entropia nunca pode ser destruída, mas somente criada. Não podemos levar a natureza a sua exaustão (como mudança climática, desertificação, poluição hídrica em nome de um modelo de consumo internalizado na sociedade contemporânea.
No relatório Bruthland, também está inserido o conceito de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, mas condicionado por limitações de cunho tecnológico, de organização social planetária e da capacidade de suporte da biosfera de absorção dos impactos das atividades humanas e econômicas.
Para outros autores meus caros leitores, a sustentabilidade somente seria possível dentro de uma economia em estado de inércia paralisada, dessa forma, tornaria a qualidade de vida melhor para as gerações presentes e sustentável para as gerações futuras. Parece-me impossível, dentro do modelo capitalista, falar sobre esse modelo de economia estacionária.
Outra definição proposta de sustentabilidade seria a divisão em sustentabilidade forte e fraca. A primeira, a sustentabilidade forte, estaria ligada à economia ecológica, e, a segunda, sustentabilidade fraca, estaria fundamentada no fato de que os recursos naturais só devem ser consumidos se houver medidas de compensação ambiental.
Caminhando no tempo, outro documento importante que definiu a importância da internalização do conceito de sustentabilidade e a internalização do conceito de desenvolvimento sustentável, foi sem dúvida alguma a Conferência de Estocolmo de 1972, sendo considerada um marco para o ambientalismo global. Na verdade, o movimento ambiental toma forma definitiva por meio dessa Conferência, legitimando-se e fortalecendo o ambientalismo nos países e no mundo.
A partir da Conferência de Estocolmo, propõe-se a criação de política públicas ambientais, legislação ambiental em todos os países, visando uma mudança de comportamento global, local e regional. Inicia-se ainda uma pegada ambientalista no planeta, reforçando as preocupações com processos de industrialização, com processos de uso da terra, com a derrubada de florestas, com a poluição, e cria-se número de recomendações importantes para os gestores de todos os países.
Para Sachs, se faz necessário que na construção de modelos de sustentabilidade, deve ser previsto estratégias do ecodesenvolvimento, postulando a necessidade der fundar novos modos de produção e estilos de vida nas condições de potencialidades ecológicas de cada região. Sob esta ótica, estimula-se a gestão participativa e compartilhada dos recursos naturais.
Não podemos esquecer os ensinamentos de Mota, que afirma que as mercadorias têm valor econômico, pois o mercado fixa os preços dos produtos. Entretanto, a biodiversidade, tais como “orangotango, uma onça pintada, uma floresta, o ar e tantos outros não tem preço fixado pelos mercados. Pergunto, portanto, quanto estamos dispostos a pagar para proteger a natureza ou deixar que ela mesma se defenda dos nossos ataques e pilhagem dos recursos naturais?
Esta coluna hoje pretende fazer algumas reflexões, tentar responder algumas das minhas inquietações, como a valoração econômica da Pachamama (terra). Assim, a diversidade de conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, visam a superação da heterogeneidade social, que se caracterizou por uma complexificação crescente da noção semântica desses vocabulários e pela compreensão do fato de que se trata de um conceito pluridimensional.
Dentre as diversas definições de desenvolvimento sustentável, esse conceito abrange a efetivação de um conjunto de direitos humanos, desde os direitos políticos e cívicos, passando pelos direitos econômicos, sociais e culturais e terminado nos direitos ditos coletivos.
Pergunto, não seria o desenvolvimento sustentável também um desenvolvimento includente, comprometido com princípios éticos, morais e solidários com a natureza e todos os seres vivos? Afirmo que sim! É necessário buscar uma nova ética, condicionada ao respeito ecológico de um novo pacto social, econômico e verdadeiramente solidário para as futuras gerações.
Ora, pensar o desenvolvimento sustentável deve-se levar em consideração o fato de que a grande maioria da população brasileira e mundial, não tem acesso a um lugar onde viver, não atem acesso à água potável e tantas outras carências. Então questiono, como internalizar a problemática ambiental, local ou mesmo global, se a população excluída desconhece a qualidade ambiental em que vive diariamente se expondo a todo tipo de agravos na saúde, pois não vivem em uma ambiental saudável.
Para finalizar, a urgência de um processo ambiental sustentável está no cerne de acontecimentos perturbadores que chamam fortemente a nossa atenção. Assim, um problema sanitário global, como a pandemia do Covid-19, além das clássicas questões enfrentadas, como desmatamento, mudança climática, alertam para o fato de que a humanidade está vivenciando uma enorme instabilidade ecológica no mundo moderno, a qual se equipara à instabilidade das questões ambientais que devem urgentemente sofrer alguma alteração no nosso modo de apropriação dos recursos naturais.
Um mundo mais sustentável e seguro exige da humanidade valores universais humanos e renovados que não poderia ser mais emergente. A humanidade é cada vez mais convocada a sair da sala de emergência que está colocando em risco a todos os seres vivos, e principalmente a Mãe Terra.
Mas a grande pergunta está embasada no seguinte questionamento: por que houve tão pouco progresso da agenda ambiental nas últimas décadas? E, como assegurar alguma mudança para um avanço social e sustentável?
Mesmo diante de todas estas inquietações, fica evidente que a humanidade insiste em trilhar os mesmos caminhos tortuosos que podem nos levar à esgotabilidade de toda espécie de vida na Mãe Terra. Não se pode criar uma fronteira e uma ruptura entre o ser humano e a natureza, pois tudo é ecológico. Então qual será o melhor caminho para alterar o rumo da humanidade e sua relação com a natureza?