O Brasil tem memória curta, mas a paciência do povo tem seus limites. O mais novo escândalo envolvendo o INSS revela algo muito mais profundo do que uma fraude contábil, escancara o desprezo com que o poder público trata o cidadão que trabalhou a vida inteira e, ao fim, é ludibriado por aqueles que deveriam protegê-lo.
Segundo revelado por investigações da Polícia Federal, em conjunto com a CGU, o rombo pode chegar a R$ 6,3 bilhões, desviados de aposentados e pensionistas por meio de descontos indevidos em seus benefícios. A engrenagem da fraude? Convênios espúrios com associações fajutas, autorizados por servidores públicos, alguns deles em posições estratégicas dentro da própria estrutura do INSS. Um sistema sofisticado de parasitismo estatal.
O mais grave, no entanto, não é só o montante, mas a leniência da administração. As primeiras denúncias datam de 2023. Deputados federais levaram o caso à tribuna da Câmara, pediram investigação ao Tribunal de Contas da União, oficiaram o Ministério da Previdência. E o que se viu? Silêncio, omissão, negligência. Só agora, com a operação deflagrada e manchetes estampando o escândalo, começaram os afastamentos, inclusive do presidente do INSS.
Fico a pensar, e se não houvesse operação? E se a imprensa resolvesse não se debruçar sobre o caso? Quantos bilhões mais escorreriam pelo ralo da corrupção disfarçada de contribuição associativa?
O mais estarrecedor é que o INSS, criado para proteger quem já deu sua cota de sacrifício ao país, hoje é visto como balcão de negócios e curral de indicações políticas. Isso fere não apenas a legalidade, mas o próprio pacto moral que sustenta a Previdência como direito social.
Não há espaço, aqui, para meias palavras. É preciso responsabilizar, punir e, acima de tudo, mudar o sistema que permite que o lobo vista a pele do pastor. O dinheiro do aposentado não é sobra de orçamento, é sagrado.
Enquanto o governo fala em déficit previdenciário, em revisão de benefícios e em reformas duras, vemos bilhões sendo desviados sob os narizes de gestores que preferem fingir que não viram. Ora, se não viram, foram negligentes. Se viram, foram cúmplices. Em ambos os casos, são indignos da função que exercem.
É hora de virar a chave. O Brasil precisa de seriedade, e isso começa por não tratar a fraude como incidente, nem a impunidade como regra. Aos que desviaram, a cadeia. Aos que se omitiram, o afastamento. E ao povo, o respeito que lhe é devido.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do Veronoticias.com