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As barreiras sócio econômicos que o universo feminino enfrenta no mercado de trabalho

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O universo feminino apresenta diversas barreiras e desafios a serem enfrentados para a inserção no mercado de trabalho em igualdade de condições com os homens. Uma dessas barreiras é a economia do cuidado – entendido como termo utilizado para a jornadade trabalho semanal maior que os homens com afazeres domésticos e familiares. Recentemente o IBGE (2023) publicou o dado estatístico de que, em média, mulheres dedicam 10,4 horas por semana a mais que os homens nos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas. Independentemente da cor ou raça, a taxa de realização de afazeres pelas mulheres é maior. Soma-se a isso, estudo da Confederação Nacional da Industria – CNI (2016) onde informa que 23% das mulheres deixam o emprego para cuidar de filhos ou parentes.

A economia do cuidado ou seja, a dupla jornada de trabalho, sempre fez parte da rotina feminina, mas o trabalho  remunerado para esse labor é relativamente novo. Na história evolutiva do trabalho humano, o homem exercia a atividade lucrativa enquanto à mulher era reservada as funções de cuidado com o lar e os filhos, sem a contabilização econômica desse trabalho (PADILHA, 2023).

Essa construção social-familiar remonta do nosso período de colonização. No momento em que os britânicos emigraram para a América, geralmente levaram consigo a esposa ou companheira, mas quando homens espanhóis e portugueses atravessaram o Atlântico, quase sempre viajaram sozinhos, apenas 10% eram mulheres (ACEMOGLU. 2012). As famílias latinas foram se estruturando e miscigenando com a submissão da mulher, de cultura “tida” com inferior a masculina. Ainda hoje essa prática está presente em uma quantidade expressiva de famílias brasileiras. Esse modelo comportamental não pode mais ter chancela social e muito menos se beneficiar de qualquer indiferença pelo poder público, a quem compete a realização de políticas públicas para extirpar esse doloroso comportamento social. A esse respeito, o ministro Luís Roberto Barroso enfatiza que “uma mulher não pode ser vista como um útero a serviço de uma sociedade” e complementa que “o poder público não pode nem deve praticar ou chancelar o preconceito e a discriminação, cabendo-lhe, ao revés, enfrentá-los com firmeza, provendo apoio e segurança para grupos vulneráveis” (MIGALHAS. 2016).

As  barreiras sociais enfrentadas pelo universo feminino estãorelacionadas à autoestima e preconceitos culturais de estereótipos. O Relatório de Desenvolvimento Humano divulgou que a diferença salarial de gênero é de 15,5%. Se considerarmos os empreendedores, essa diferença entre os salários dos homens e das mulheres sobe para 17,5%, e se considerarmos os recortes raciais essa diferença se torna ainda maior (PNUD 2021-2022). 

O SEBRAE NACIONAL (2024) publicou  estudo inédito com base em dados do Banco Central sobre “O financiamento do empreendedorismo feminino no Brasil: um panorama do mercado de crédito” onde aponta que, no empreendedorismo, mesmo com nível de escolaridade maior que os homens e com as mesmas garantias financeiras, o juros para o público feminino é maior em 3,5%.  

Hillary Clinton, quando estava em campanha à Presidência dos Estados Unidos por um grande partido, disse: “As transformações sociais são sempre difíceis. Se faz necessário fazer uma releitura dos desafios e perceber que cada mulher tem seu papel estratégico no contexto social, que a obriga a empoderar umas às outras para que, juntas, se tornem mais responsáveis por moldar o próprio futuro.”

A luta da mulher pela inserção no mercado de trabalho de forma digna está longe de acabar porque muitos dos nossos direitos ainda não foram reconhecidos. Precisamos repensar a nossa forma de relacionamento com o movimento feminista para dissociá-lo da imagem estigmatizada do radicalismo nervoso e reposicioná-lo como um movimento social, político e econômico por justiça.

A Global Entrepreneurship Monitor aponta que ainda existem muitos obstáculos a serem superados para reduzir as diferenças  discrepantes entre os  universos laborais masculino e o feminino (GEM. 2024). Além das grandes companhias brasileiras possuírem uma minoria feminina em posições de liderança, as mulheres ainda ganham 19,4% a menos que os homens no Brasil e essa diferença varia de acordo com o grande grupo ocupacional (IGBC. 2023). Em cargos de dirigentes e gerentes essa diferença na remuneração chega a 25,2%, é o que confirma o  Painel do Relatório de Transparência Salarial do Ministério do Trabalho e Emprego. Relatório de Transparência Salarial (MTE. 2024).

A promoção da diversidade de gênero na cultura organizacional pode ser estabelecida por metas e indicadores que incluem a representação feminina em cargos de liderança com equidade salarial. Essa mudança comportamental na empresa contribui para a  criação de valor de longo prazo, proporcionando maior vantagem competitiva e crescimento dos negócios.

Essas políticas devem focalizar não apenas no aumento da presença feminina na força de trabalho, mas também na erradicação das disparidades salariais entre os sexos e o apoio ativo à ascensão de mais mulheres a posições de liderança. O Relatório do FEM – Fórum Econômico Mundial sobre desigualdade de gênero global de 2023 – Global Gender Gap Report 2023 aponta que, no mercado de trabalho, em escala mundial, a desigualdade é persistentemente ampla. A porcentagem de mulheres fica em torno de 30% em vários campos, inclusive em cargos de liderança (WEFORUM, 2023).

Mas essa diferença também está presente na governança corporativa.  A Brasil Board Index 2022 reuniu dados sobre a composição dos conselhos de 250 empresas envolvidas nos segmentos especiais da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. Os resultados indicaram que 15,6% das posições nos conselhos são ocupadas por mulheres, em comparação com os 14,3% registados em 2021. Apesar da evolução na representatividade feminina nos conselhos, persiste um enorme potencial para uma maior inclusão.

A edição seguinte da pesquisa, referente a “Análise da participação das mulheres em conselhos e diretorias das empresas de capital aberto” apresentou revelações significativas. Entre as mais de 300 empresas abertas examinadas, constatou-se que em 68 delas não havia nenhuma representação feminina em posições de alta liderança. Além disso, dentro desse grupo, a parcela de mulheres era apenas de 15,2%. Em comparação com os números de edições passadas da pesquisa – 12,8% em 2021 e 14,3% em 2022 – o progresso é modesto. O estudo enfatiza que as empresas brasileiras têm pela frente um percurso considerável a ser percorrido (IBGC. 2023).

Embora se deva reconhecer que juridicamente o Brasil é um país protetivo quanto ao trabalho da mulher, é fato que desde a implantação das primeiras ações afirmativas no Brasil muito se evoluiu, no entanto, ainda é necessário complementá-las, pois não há uma legislação que trate especialmente sobre os cargos de gerência, chefia, ou tampouco que fixe o direito à igual remuneração entre os gêneros.

As transformações sociais são sempre difíceis. Se faz necessário fazer uma releitura dos desafios e perceber que cada mulher tem seu papel estratégico no contexto social, que a obriga a empoderar umas às outras para que, juntas, se tornem mais responsáveis por moldar o próprio futuro. Nesse sentido, a Presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura do Distrito Federal, Beatriz Guimarães, afirma que a sororidade é o combustível para as conquistas femininas, provando que unidas podemos transformar sonhos em realidade e vitórias.

Sem nenhuma intenção de pregar a dominação das mulheres sobre os homens, os dados apresentados confirmam que ainda temos uma longa caminhada para desconstruir os ideais patriarcais enraizados na sociedade. Entretanto, essas tarefas estão a cargos de instituições e atores políticos eminentemente masculinos.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do Veronoticias.com

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