A minha maior dificuldade como escritora não é agradar a todos os leitores — políticos, juristas, empresários, acadêmicos ou qualquer pessoa, independentemente da profissão ou mesmo sem atividade formal. Para mim, escrever é como sentar numa roda de conversa e deixar a alma falar: esqueço quem são os ouvintes e me concentro em perceber como eu mesma me transformei desde a última história que ousei contar. Cada texto é uma travessia — e, ao narrá-lo, sou também personagem da minha própria jornada, que se refina e amadurece ao compasso de cada nova criação.
Muitos que vivem do processo criativo se angustiam diante do bloqueio da inspiração. Para mim, porém, o que falta, na maioria das vezes, não é inspiração — é coragem. O que me imobiliza não é a ausência de ideias, mas o temor de revelar a verdade que pulsa dentro de mim. Porque, a cada texto publicado, exponho um fragmento da minha alma. E isso exige uma valentia imensa.
Foi exatamente isso que destacou o fundador Lucas Valença do Vero Notícias, na última terça-feira (29/05), ao anunciar a expansão do portal durante um evento realizado no hall do escritório Vieira e Serra, gentilmente cedido pelos advogados associados: “É preciso ter coragem!” Essas palavras ecoaram em mim de forma profunda.
Jornalistas precisam de coragem para escrever — seja de forma direta, por meio de matérias, seja de forma indireta, por meio de crônicas. Esta última sempre foi, para mim, a mais inspiradora. Nas crônicas, posso entrelaçar realidade e ficção com liberdade, explorando nuances que vão além do factual. E, quando alguém se aproxima dizendo: “Não gostei do que você escreveu sobre mim”, respondo, com serenidade: “Se o retrato lhe pareceu fiel, talvez tenha encontrado no texto apenas um espelho.”
O maior desafio de escrever com autenticidade é lidar com a exposição e os julgamentos que ela inevitavelmente provoca — porque, quando nos deixamos abalar por estes últimos, parece que também nos negamos o direito de reconhecer a nossa imperfeição. E sabe qual é o maior temor de um escritor?
Deixar que a coragem de contar se dissolva. Histórias sempre existem, mas nem tudo o que habita em nós encontra força para ganhar voz no mundo. O oposto da coragem? O medo. E o medo paralisa. No entanto, quando aceitamos nossa condição de seres humanos falíveis, tudo começa a fluir novamente.
Reconhecer quem sou e no que acredito abre o caminho para que a minha escrita, liberta do medo, ganhe asas e se aventure pelos ares da criação.
Quem nunca perdeu o foco? Que atire a primeira pedra. Sempre que me afasto daquilo que faço de melhor — escrever — sinto um vazio difícil de nomear, uma sensação de desconexão, como se minha essência se apagasse por instantes. E me pergunto: haverá sentimento mais silenciosamente doloroso do que esse?
É preciso coragem para falar sobre minhas paixões, sobre o que ouço e sobre os segredos que partilho.
Não nego: isso já me trouxe dissabores. Mas quer saber? Eu vivo da minha arte. Nesses momentos, preciso ter coragem para dar voz à minha percepção do mundo, traduzindo os fatos que se desenrolam no meu cotidiano — ora de forma límpida, ora como confidências sussurradas.
Na essência, escrever é um ato de exposição. Uma confissão disfarçada de texto. Uma tentativa — às vezes desesperada — de manter acesa a chama que me faz reconhecer minha própria identidade. Não se trata apenas de informar ou entreter; trata-se de permanecer inteira, mesmo quando tudo ao redor tenta me fragmentar.
E, se algum dia eu perder novamente o foco ou a coragem, que seja por pouco tempo, até que o verbo, silencioso e paciente, me reencontre. Aprendi que, enquanto houver palavras em mim, haverá sempre um caminho.
Porque, no fim, escrever é mais do que um ato de coragem: é um pacto silencioso com a própria alma. E, se for para jorrar, que seja sempre a verdade — inteira, perfeita, pulsante. Afinal, é da melodia cadenciada das palavras que brotam os caminhos por onde continuo a existir.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do Veronoticias.com