No Brasil, estamos próximos da realização de eleições municipais para a escolha de vereadores e prefeitos. Nas democracias atuais, eleições têm sido transformadas no único momento de participação social de pessoas, grupos, classes, nas quais nossas sociedades estão divididas. Com isso, a democracia tem sido reduzida ao ato de votar e escolher aqueles que serão os representantes da sociedade nas câmaras e congressos e aqueles que serão os governantes por algum período. Passadas as eleições, é como se a “democracia” tivesse acontecido e tudo termina por aí.
Essa redução da democracia às eleições de representantes e governantes prejudica não apenas ao chamado “regime democrático”, prejudica principalmente a elevação da consciência de todos à compreensão de que a democracia é (ou dever ser) participação igualitária no debate político-público e nas deliberações na sociedade. Essa participação é efetiva e ativa somente se as pessoas, grupos e classes tomam parte nas decisões e construção de ideias que se tornam instituições, normas e orientações na vida cotidiana de todos. O que solicita contínuo conhecimento do que almejam os diversos poderes sociais, nos seus intentos de governar a sociedade, e requer igualmente contínua atuação de todos no sentido de oferecer a esses poderes reflexões, problematizações ou contestações que possam constituir concordância ou reformulação do que é proposto à sociedade. Um tipo de atuação que somente ocorre(rá) com a participação de todos nos debates e ações que se pode organizar em movimentos sociais, grupos de pressão, grupos comunitários, associações, partidos etc. e continuamente…
A democracia de apenas eleições é sem conteúdo, sem dignidade e sem vida. É, no fundo, uma falsificação da democracia. Ainda mais quando, atualmente, as campanhas pelos votos realizadas por bom número decandidatos aos diversos postos servem-se da ignorância a que está submetida grande parte da sociedade em relação a assuntos e problemas, notadamente suas causas e possíveis soluções, superações. Campanhas que não buscamesclarecer a sociedade, conduzi-la à reflexão sobre suas próprias instituições e seus desacertos, pois muitas delas “vão ao ar”, nas TVs e rádios, servindo-se de preconceitos, estereótipos, pensamentos conservadores ou reacionários, que, contas feitas, representam uma ameaça ao progresso cultural e moral da sociedade.
Em sociedades que estorvam a participação social igualitária de todos, pela existência de instituições, relações sociais e certos preconceitos, tornar essa participação efetiva e ativamente cotidiana é o que deve ser buscado e promovido pelas democracias atuais. Para o que se exige tornar as eleições apenas um momento dessa participação, mas necessariamente incompleto, inacabado. Um momento que deve ser conectado a vários outros de participação ativa que correspondam também a continuidade das escolhas por eleições de representantes e governantes com o diálogo, a cobrança e os questionamento das ações e atuações desses mesmos representantes e governantes, por meio de canais e espaços da crítica e do debate autênticos.
As nossas democracias atuais ou promovem a participação social e política de todos – mas para o que se requer que promovam também uma educação que construa uma elevada consciência sobre as causas de vários dos problemas que afligem nossas sociedades, assim como é exigível que ninguém seja excluído dessa participação, por critérios infudamentados –, estimulando e convocando a todos a tomar parte no debate político-público e nas deliberações – ou arriscam-se a transformarem-se em simulacros. Se é que já não é o caso…
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do Veronotícias.com