Será por que a empada sem azeitona não tem graça? Provavelmente, porque não tem o efeito final que traduz o esperado sabor, deixado para o grand finale.
Comer e beber de graça tende a ser mais saboroso, especialmente para quem tem fome e sede de poder.
Um calote dado em uma festa de aniversário conjunta protagonizada por duas personagens, ditas “amigas inseparáveis”, uma advogada militante de tribunais superiores e uma magistrada federal teve um final nada convencional para o padrão de pessoas de alta graduação social.
A desembargadora foi quem organizou a festa, dando início aos pagamentos, de tudo informando à advogada, que dizia que acertaria a sua parte, no tempo oportuno. Foi assim que a magistrada arcou com todas as despesas, e contou com a boa fé da outra aniversariante, mas o fato é que esse tempo oportuno nunca chegou.
A festa, ocorrida na capital federal, teve um alto custo , regada a bebida e comida muito apreciadas pelos amigos das cortes de justiça e da advocacia. Terminado o exitoso evento, veio o momento do acerto financeiro. Foi então que a dileta amiga, uma boa defensora dos próprios interesses, como reza a cartilha da advocacia, informou que já havia cedido o espaço para a celebração, logo, nada mais teria a acertar.
As conversas evoluíram para que ela desse o claro recado, no sentido de que a magistrada se desse por bem recompensada por ter gozado do privilégio de comemorar o aniversário ao seu lado, uma profissional, cujo nome ascende entre os colegas da advocacia e da magistratura.
Um bom repórter sabe um pouco de tudo, sem se aprofundar em nenhuma das ciências. Assim, posso dizer que, com o pouco que estudei de psicologia, consigo reconhecer alguns traços narcisistas, dentre os quais a capacidade de encantar, proporcionando aos outros a sensação de que encontraram a pessoa mais maravilhosa do mundo. Um tanto diplomático quando lhe é conveniente e totalmente descortês ao fazer o descarte de quem não mais lhe interessa, o narcisista brilha sob os holofotes alheios.
Ao pesquisar a vida da nobre causídica, descobri que tem fama de dar péssimas referências de seus antigos funcionários, em geral, recém-formados em Direito que disputam uma oportunidade para dar os primeiros passos na advocacia. Sagaz em enganá-los, ela os atrai pelas promessas de crescimento profissional. Apelidado entre os jovens profissionais de “Escritório da Cilada”, estes fazem a sua pior descoberta ao saírem do escritório. Assim que tentam uma nova oportunidade, são de pronto rechaçados, já que a nobre advogada fornece péssimas referências aos possíveis contratantes.
A mensagem fica clara: “Se você não ficou aqui, então, não trabalhará em lugar algum sob a referência de meu valioso nome”.
De volta às nossas personagens iniciais, desolada, por ter entrado na aventura sem perceber o tamanho da cilada, a magistrada ouviu do amigo, ministro de uma corte superior de justiça, uma frase mais realista do que de consolo: “Foste a azeitona da empada dela”. Sábio ministro! Conseguiu definir a caloteira como uma alpinista social.
Se essa empada não levasse azeitona, a festa não lhe teria produzido tanta satisfação. Nossa encantadora narcista precisava dos convidados e, é claro, de um personagem coadjuvante e, ao mesmo tempo coringa, capaz de elevar o seu protagonismo e de bancar o champanhe e o buffet.
Essa história rendeu-me uma ressaca das bravas. Em um almoço, acompanhada de uma das convidadas da festa, ganhei uma taça de champanhe de cortesia, após uma sequência de bons drinks tomados enquanto, compenetrada, ouvia a história. Não tive um sono de qualidade. Não foi a saideira, tampouco as boas bebidas. Foi a ressaca da alma. Pergunto-me como alguém consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. A ressaca moral é a pior de todas. Mas, pelo visto, nem todos a sentem.
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