O Brasil está se especializando em perder seus melhores talentos. Exportamos cérebros como quem exporta soja, a granel, sem valor agregado, sem retorno. E o pior, fazemos isso sem o menor constrangimento.
A debandada de profissionais qualificados para os Estados Unidos e outros destinos não é apenas um fenômeno demográfico. É um atestado da nossa incapacidade crônica de reconhecer valor, de investir no mérito, de transformar vocação em política pública. Um país que paga mal, trata a educação como despesa e a pesquisa como capricho acadêmico, não pode se surpreender ao ver seus talentos arrumando as malas.
Aqui, o pesquisador é visto como um luxo. O cientista, como alguém que “vive de bolsa”. O professor, como um peso morto no orçamento. Em vez de criar as condições para que o conhecimento floresça, preferimos cortar verbas, atrasar repasses, burocratizar a esperança. E depois nos espantamos quando os nossos melhores quadros se tornam cidadãos de outras bandeiras.
Não se trata de patriotismo, trata-se de dignidade. O Brasil não tem perdido cérebros por excesso de ambição desses profissionais, mas por falta de compromisso do Estado. Enquanto isso, países sérios pescam no nosso aquário com a tranquilidade de quem sabe que aqui a valorização intelectual é rara, e a meritocracia, decorativa.
É claro que ainda temos gente boa resistindo. Ainda há pesquisadores de primeira linha, professores de excelência e técnicos brilhantes tentando mudar o jogo. Mas quantos mais vamos perder até perceber que essa sangria é estrutural? Até quando vamos desperdiçar o que temos de melhor por pura inépcia governamental?
A resposta está na política. Política com P maiúsculo, que compreenda que educação, ciência e inovação não são perfumaria de governo, mas alicerce de nação. Que trate o pesquisador com a mesma deferência que se trata um investidor estrangeiro. Que compreenda que manter cérebros aqui não é um favor a eles, é uma salvação para nós.
Porque país que trata seus gênios como descartáveis será, inevitavelmente, tratado pelo mundo como irrelevante.
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