Na semana em que o mundo celebrou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, fez uma declaração contundente: “Sem imprensa livre, não há democracia. A imprensa é o oxigênio da sociedade aberta.” A fala ecoa um princípio basilar das democracias modernas — a liberdade de informar, questionar e fiscalizar o poder. No entanto, como toda liberdade constitucional, essa também exige responsabilidade.
A imprensa livre é, de fato, um antídoto contra autoritarismos. Ao longo da história, jornalistas denunciaram abusos de poder, revelaram esquemas de corrupção, abriram espaço para o contraditório. Mas o debate público sobre os limites dessa liberdade tem se intensificado no Brasil — especialmente diante de episódios que colocam em xeque o compromisso ético de certos veículos e profissionais.
No Supremo Tribunal Federal (STF), há julgamentos emblemáticos em curso que envolvem esse equilíbrio delicado entre liberdade de imprensa e outros direitos fundamentais, como honra, intimidade e presunção de inocência. Um dos casos mais relevantes é o da chamada “responsabilização civil da imprensa”, que discute se veículos podem ser punidos quando publicam conteúdos ofensivos com base em fontes anônimas ou sem comprovação factual adequada. O relator, ministro Alexandre de Moraes, já afirmou que “liberdade não é irresponsabilidade” — e que a imprensa não pode ser usada como escudo para caluniar, distorcer ou destruir reputações.
É nesse ponto que o debate precisa amadurecer. Defender a liberdade de imprensa é absolutamente necessário. Mas é igualmente necessário reconhecer que jornalismo não é licença para narrativas seletivas, linchamentos públicos nem para a manipulação do sentimento social em nome de agendas veladas. Uma reportagem pode causar estragos irreparáveis quando construída de forma leviana — e isso vale tanto para pequenos sites quanto para grandes revistas.
O que está em jogo, portanto, não é a censura, mas a responsabilização proporcional. A liberdade de imprensa deve conviver com o rigor da apuração, o compromisso com a verdade e o respeito aos direitos individuais. Do contrário, o jornalismo perde credibilidade — e a democracia, seu alicerce de confiança mútua, se fragiliza.
No momento em que o Brasil se prepara para mais um ciclo eleitoral, o papel da imprensa será ainda mais relevante — e mais observado. Cabe aos veículos, às redações e aos profissionais reforçarem seu pacto com a ética, com a escuta plural e com o cuidado na escolha das palavras. Porque a imprensa, para ser livre de fato, precisa também ser justa.