A escolha de um candidato no plano municipal, majoritariamente, acontece pela empatia estabelecida entre eleitores e candidatos, desde a aparência, proximidade familiar, parental, vizinhança, relações profissionais, assistencialismo, vinculações religiosas, partidárias, financeiras e, em menor escala, pelas afinidades ideológicas, a qual deveria ser a mais importante, mas não tem sido a determinante no voto nas atuais eleições.
Entre os candidatos alinhados com as políticas identificadas como de esquerda, com militância nos sindicatos, associações de moradores de bairros periféricos, grêmios estudantis e outros movimentos sociais conectados às lutas históricas progressistas, o desempenho eleitoral não se irradiou, frustrando as expectativas. Em outras palavras, a esquerda brasileira vem gradualmente perdendo a capacidade de formular uma atmosfera conscientizadora em torno de problemas como a desigualdade social, a reforma eleitoral, a questão ambiental, a educação libertária, entre outros.
Tecnologias e mecanismos subjetivos e virtuais têm sido introduzidos nesse processo, expressos nas gigantes plataformas e algoritmos virais, implicando em alienação e manipulação identificadas nas tendências nas últimas décadas, de tal modo que essa “nova consciência” não é fruto de um movimento parido nas contradições sociais capitalistas, mas como algo dado, imediato e efêmero com benefícios, quando existe, individual e não coletivo. Pelo mais discreto e eficaz modo, o de ouvir, observa-se esses condicionantes em múltiplas expressões na sociedade brasileira à luz do pleito municipal recém findo. Venceu o centro-conservador, um passo abaixo do extremismo de direita.
As lideranças representadas nos parlamentos e executivos nas eleições municipais talvez sejam as mais expressivas da crise social e política em curso. O conservadorismo do Congresso Nacional, Executivos Municipais e Estaduais, os motes repetitivos em chavões e números dos candidatos nas campanhas eleitorais, a carência de discussão de propostas de gestão dos territórios em disputa, as agressões entre os adversários desqualificando e aniquilando a Política, são alguns sinais indicativos desse colapso civilizatório.
A manutenção e o predomínio dos poderosos do campo econômico, militar e religioso nas Câmaras Municipais e a baixa representatividade dos defensores do meio ambiente, das mulheres, dos direitos humanos, das políticas públicas que reduzam as desigualdades são elementos a serem considerados e analisados em suas as causas e razões. Há quem diga que as torneiras abertas das emendas parlamentares e os recursos oficiais canalizados para os partidos políticos via acordos distantes do interesse popular foram determinantes na atual composição da política nacional, uma vez que as legendas que mais elegeram candidatos foram as dos partidos useiros e vezeiros em práticas de negociar votos nos colegiados em troca de benefícios pecuniários, em suas bases eleitorais, independentes dos centros de poder.
Os mecanismos de utilização desses recursos variaram da doação de cestas básicas à implantação de estradas, praças, escolas, entre outras benfeitorias, nas comunidades que atuam como “currais eleitorais”. A política se reduziu a um “toma-lá-dá-cá”, entre candidatos e eleitores, o voto e os interesses individuais e imediatos justificados pela necessidade dos pobres em cuidar da sobrevivência, da oportunidade de ganhos e melhorias temporárias por casuais possibilidades de angariar benefícios escassos em tempos normais. Urge mudar esse histórico quadro de esmolas personalizadas para as estratégias de políticas públicas compensatórias, democráticas, estruturantes e transparentes do ponto de vista da distribuição e aplicação dos recursos públicos.
Os cenários que se avizinham são de ameaças e carecem do altruísmo ideológico e energia positiva para enfrentar os próximos quatro anos. Em que pesem os números não serem favoráveis, o termômetro das eleições municipais acena com chuvas esparsas, ar rarefeito e muita tempestade, a começar pelas campanhas do segundo turno, em quinze capitais e umas tantas municipalidades por todo o país. A polarização esquerda versus direita diluída no primeiro turno, pode se acirrar e muito, no segundo, ao menos em específicos municípios. Vamos aguardar!
Gutemberg A. D. Guerra; Manoel Moacir C. Macêdo e Manoel M. Tourinho são engenheiros agrônomos e pós-graduados em ciências sociais.
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