Com colaboração de Gutemberg A. D. Guerra, Manoel M. Tourinho*
No período pré-eleitoral, as cidades, vilas, vilarejos, povoados e estradas transformam o tempo da política no tempo de estupros auriculares e cerebrais. As estratégias de marketing se sobrepõem, confundindo a qualidade da mensagem com o volume e intensidade de como é comunicada, em altíssimos decibéis e repetições enfadonhas. Destaque para o número do candidato e atributos que pretendem atingir o público-alvo, e bote alvo nesse verbete, utilizando como argumento para realizar o seu voto, vontade de vê-lo eleito.
As eleições para prefeito e vereador são as mais importantes da Nação, pois é na cidade que vivem e trabalham as cidadãs e cidadãos e, por isso, deveriam ter um caráter educativo e um exemplo a ser seguindo nas eleições federais como aprendizado para os envolvidos: candidatos e eleitores. Todos deveriam aprender a pensar e se expressar sobre as demandas do município, melhorias que poderiam ser realizadas, do ponto de vista físico e, principalmente, existencial e relacional, no sentido mais pleno da palavra política. O município é a célula matriz da consciência cidadã.
A gestão da municipalidade significa a gestão das relações entre as pessoas que nela habitam e isto, deveria se expressar no conteúdo das campanhas. Não é o que acontece. Os carros de sons agridem os ouvidos dos anônimos e adversários políticos, com pregações vazias de conteúdo, civilidade e com repetições e jargões envelhecidos. Fala-se em democracia como retórica distante do respeito ao direito individual, partilha da riqueza, educação, saúde, saneamento básico, transporte, cultura, emprego, renda e dignidade para todos. Pouco avanço nos valores que nela se constitui. Alguns são valores consagrados pela civilização. Nesse contexto, a democracia não existe como condição para melhorar a vida das pessoas e garantir o estado democrático de direito.
O debate tem de ser real, e não virtual. Candidatos fazem campanha sem aparecer presencialmente. Entretanto, em vez de comícios, diálogos, cochichos, nos espaços de convivência, assiste-se um turbilhão de carros de som, um barulho estrondoso de conteúdo duvidoso, inviabilizando o aprendizado fundamental sobre a gestão pública, a exemplo do saneamento básico, malha viária e serviços básicos de qualidade. Perpetuam-se nas cidades, a cada pleito eleitoral, as deficiências elementares do viver, como a irregularidade das calçadas, desordem na ocupação do espaço, onde o drama humano se encena. Pessoas e animais abandonados se misturam ao lixo, realidade negligenciada nas promessas da campanha. Não é incomum os inusitados candidatos com discursos com apelos dos desiludidos da política tradicional. Esses contestam o sistema, para se beneficiar dele.
Esses são alguns pontos a refletir na especificidade da “democracia eleitoral” em tempo de eleição. O difícil, certamente, não será o começo, mas a manutenção de um percurso que leve à verdadeira civilidade e o exercício da democracia. Enquanto isso, os gritos ecoam na ganância dos votos, como se essa fosse a mais inteligente das estratégias. Pode ser, eleitoralmente, mas não será a mais consequente.
Gutemberg A. D. Guerra; Macêdo; Manoel M. Tourinho, são engenheiros agrônomos e pós-graduados em ciências sociais.
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